Lição 6 - A Centralidade da Graça (Sola Gratia)

Assunto: Reforma Protestante: história, ensinos e legado.
Lição: Jovens e Adultos
Trimestre: 4° de 2017
Comentarista: Pr. Gilmar Vieira Chaves
Editora: Central Gospel
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Efésios 2. 1-10
1 E VOS vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados,
2 Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência.
3 Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.
4 Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou,
5 Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo ( pela graça sois salvos ),
6 E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus;
7 Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.
8 Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.
9 Não vem das obras, para que ninguém se glorie;
10 Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.

TEXTO ÁUREO
Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. Efésios 2.8,9

 
SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DIÁRIO
2ª  feira - Tito 2.11; 3.7: Justificados pela sua graça
3ª feira - Romanos 4.1-16: É pela fé, para que seja segundo a Graça
4ª  feira - Romanos 5.18-21: Superabundante graça
5ª  feira - Romanos 6.1-4: Permaneceremos no pecado?
6ª feira - Gaiatas 4.21-31: Somos filhos da Livre
Sábado - Mateus 21.12,13: Vós a tendes convertido em covil
OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá:
•   conhecer o entendimento romano sobre a participação humana na salvação;
•  compreender o princípio de sola gratia;
• entender que ninguém é capaz de alcançar as bênçãos divinas (materiais e/ou espirituais; para esta vida e/ou para a vindoura) por méritos próprios.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Prezado professor,
Uma aula pode ser definida como o período de tempo em que se processam as atividades de ensino e aprendizagem.
Para que a aula aconteça de forma produtiva, é necessário que seja antecedida peia elaboração de um planejamento. É impossível ministrar aulas que correspondam às expectativas educacionais sem dar total atenção à fase de elaboração de um plano de trabalho didático.
O que é um plano de aula? Seguem algumas definições:
•  uma previsão quanto aos objetivos, conteúdo, procedimentos, recursos e avaliação a serem utilizados no contexto da aula;
• um roteiro para orientar o professor no alcance dos objetivos educacionais;
•  uma sistematização das atividades que vão acontecer em classe, evitando, assim, a improvisação e o desperdício de tempo e de recursos. Excelente aula!

COMENTÁRIO

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Palavra introdutória
Como mencionamos na lição anterior, o ser humano, via de regra, não se sente confortável com o fato de depender de outrem para satisfazer suas necessidades e anseios — elementares ou profundos —, e esse desconforto estende-se a todas as áreas da vida. De modo geral, o homem não consegue aceitar que a salvação de sua alma não depende, em nada, dele mesmo, mas única e exclusivamente de Deus.

Nesta lição, veremos que na Idade Média, sobretudo, a doutrina da salvação pela Graça foi completamente abandonada, sendo restabelecida pela teologia reformada.

1. O ENTENDIMENTO ROMANO QUANTO À PARTICIPAÇÃO HUMANA NA SALVAÇÃO
Muitos cristãos reformados acreditam que os católicos apregoam a salvação pelas obras, enquanto os protestantes anunciam a salvação pela Graça. Apesar de ser um entendimento comum, é preciso dizer que ele não é verdadeiro: os romanistas não ensinam que somos salvos apenas pelas obras que praticamos.

Onde está, afinal, o ponto de cisão entre romanistas e reformados? Está em uma única palavra: sola (somente). Enquanto os reformados sustentam que somos salvos somente pela Graça, a Igreja Romana entende que há participação humana nesse processo. É o que veremos a seguir.

1.1. A doutrina das indulgências
Resumidamente, pode-se dizer que a Igreja Romana entendia que as indulgências (It. indulgentia = gentil) serviam para reparar, total ou parcialmente, os males decorrentes do pecado — sendo que o pecado já é perdoado no sacramento da confissão.

Em outras palavras, significa dizer que, para os romanistas, as indulgências (obtidas pela prática de boas obras) não estavam relacionadas ao perdão dos pecados, mas ao perdão da pena temporal causada pelo pecado — elas seriam semelhantes ao ladrão que, conseguindo o perdão daquele que foi roubado, deve restituir o dono com o dinheiro equivalente ao que foi extorquido.

1.1.1. Refutação reformista à doutrina das indulgências
Lutero discorreu sobre as práticas abusivas de venda de indulgências. Em suas teses, ele afirmou que o arrependimento requerido por Cristo para o perdão dos pecados envolve arrependimento espiritual interior, não apenas a confissão sacramental exterior.

No terceiro volume das Institutos da Religião Cristã, de Calvino (capítulo 5; seções 1—5), o pensamento romano também é contestado. Nele, são abordados temas como: (1) a indulgência, além de grosseira mistificação, é blasfemo vilipêndio da redenção operada no sacrifício de Cristo, como a Escritura o comprova (seção #2); (2) as indulgências contradizem a Graça, pois são convertidas em compensações erroneamente concebidas por meritórias diante de Deus (seção #5).

O comércio de indulgências refere-se aos abusos cometidos pelo Clero na concessão de indulgências. Os primeiros registros dessa
prática arbitrária remontam ao século 13. Nesse período (séc. 13 - 16), surgiu a figura do perdoador profissional. Johann Tetzel chegou às raias do absurdo, ao afirmar que quando uma moeda tilintava no cofre, uma alma saía do Purgatório.

1.2. A doutrina do purgatório
A doutrina do purgatório foi aprovada no Concílio de Florença (1438—1445) e definitivamente confirmada no Concílio de Trento (1549—1563); todavia, ela já era ensinada desde 1070.

Segundo essa doutrina, advinda de uma antiga crença pagã, os cristãos parcialmente santificados — no caso, a maioria — passariam por uma espécie de purificação para, somente depois, entrarem na comunhão eterna. Vale destacar que, para a Igreja Romana, o Purgatório não é um lugar, mas sim um estado.

Para os romanistas, todo ser humano traz consigo certa desordem interior, que deve ser extinta nesta vida. Na confissão — ainda segundo a Igreja Romana —, o homem recebe o perdão dos seus pecados, mas, na grande maioria das vezes, a raiz de iniquidade não é totalmente removida, e, por isso, ele (o homem) acaba reincidindo nas mesmas faltas. Apenas no Purgatório essa desordem interior é totalmente destruída, possibilitando a alma chegar ao céu em plena comunhão com Deus, que rejeita todo pecado.

1.2.1. Refutação reformista à doutrina do purgatório
No terceiro volume das Institutos da Religião Cristã, de Calvino (capítulo 5; seções 6—10), o pensamento romano é contestado. A sexta seção, inclusive, recebeu o seguinte título: Dadas suas sérias consequências e a natureza blasfema de que se reveste, forçoso se faz refutar a doutrina do purgatório.

Nas seções subsequentes, são abordados temas como: (1) é improcedente o respaldo que se deriva de Mateus 12.32 à doutrina do purgatório, bem como de passagens paralelas e de Mateus 5.25,26 (seção #1); (2) tampouco Filipenses 2.10, Apocalipse 5.13 e 2 Macabeus 12.43 respaldam o Purgatório (seção #8); (3) tampouco 1Coríntios 3.12-15 oferece fundamento à doutrina do purgatório (seção #9).
 
2. SOM GRATIA
Lutero defendeu arduamente a ideia de que o pecador é incapaz de, por si só, prover ou apropriar-se da salvação. Assim, atacou todo sistema de indulgências, peregrinações e penitências adotado pela Igreja Medieval, opondo-se, do mesmo modo, à doutrina do purgatório.

O monge agostiniano compreendeu que, para derrotar a ideia de
meritocracia apregoada por Roma, ele teria de ir à raiz da  controvérsia: a graça divina (Ef 2.8,9).

2.1. Definição do termo
Esse termo indica, antes de tudo, que o onipotente Deus Trino, o Criador dos céus e da terra, o Soberano da salvação, oferece Sua graça remidora a homens e mulheres, culpados e indignos, de modo tal, que se lhes torna impossível não responder a esse favor imerecido com regozijo e submissão voluntária.
A teologia reformada entende que, quando o cristão verdadeiramente experimenta a graça soberana do Altíssimo, ele compreende também seu real significado: se a Graça não for livre e soberana, ela não é Graça.

2.2. As epístolas paulinas
Paulo, não os reformadores, foi quem maior destaque deu ao tema graça. Das 155 referências existentes em relação ao favor imerecido concedido por Deus aos homens, 133 são dele. A Graça abre e fecha boa parte de suas epístolas; sendo a nota primordial de seus escritos (1Co 3.10; 2 Co 4.15; 8.1; Fp 1.7; Cl 1.6; 1Ts 5.28; 2 Ts 2.16; 1Tm 1.14; 2 Tm 1.9; Tt 2.11; 3.7).
Vejamos o que ele destacou em três de suas cartas (aos romanos, aos gaiatas e aos efésios).

2.2.1. Romanos
A carta aos romanos é um dos livros neotestamentários que mais enfatiza a maravilhosa graça divina. O tema central da epístola é: o justo Senhor justifica e, por fim, une judeus e gentios pela Graça, mediante a fé, tornando-nos, todos, coerdeiros do Reino dos céus (Rm 4.16) — esse capítulo de Romanos (4), aliás, é central para a afirmação de que a justificação ocorre somente pela graça de Deus, mediante a fé. Além disso, nessa carta, Paulo diz que a Graça determina a paz entre os homens e Deus (Rm 5.2); traz verdadeira libertação do domínio do pecado (Rm 5.20,21; 6.14) e capacita os cristãos a servirem à Igreja (Rm 12.6).

2.2.2. Gálatas
Paulo utilizou duas personagens veterotestamentárias (Sara e Agar) para apresentar aos gaiatas as diferenças entre os dois Concertos: a Lei e a Graça (Gl 4.21-31). Com essa ilustração, o apóstolo reiterou a impotência da Lei no que diz respeito à justificação do homem (Gl 3.10-14). O apóstolo concluiu a alegoria dizendo que a observância à Torah é desnecessária, pois somos filhos não da escrava (a Lei), mas da livre (a Graça) (Gl 4.31).
2.2.3. Efésios
Paulo diz, em sua carta aos efésios, que o homem está morto em seus delitos e pecados (Ef 2.1,2). Não se deve entender com essa afirmativa que todas as pessoas são igualmente más, ou que todas são tão más quanto poderiam ser, ou que todas estão destituídas de quaisquer virtudes, ou que a natureza humana é má em si mesma.
O homem natural, pela graça comum de Deus, pode, sim, ser um bom cidadão, cultivar virtudes elevadas e ter valores morais sólidos; todavia, nada do que ele faça nesta vida pode livrá-lo de seu pecado original (Rm 3.23; 6.23), senão a graça salvífica (Ef 2.8,9).
Se a fé é o meio humano pelo qual alcançamos a salvação (Ef 2.8), a Graça é o recurso divino no qual depositamos a nossa fé.


3. ADVERTÊNCIA À IGREJA REFORMADA: TUDO, TÃO SOMENTE PELA GRAÇA
O princípio da sola gratia, extraído da Escritura, traz--nos dois entendimentos fundamentais: (1) todos, invariavelmente, estamos sujeitos ao pecado e temos inclinações pecaminosas; (2) todos, indistintamente, somos incapazes de alcançar as bênçãos divinas (materiais e/ou espirituais; para esta vida e/ou para a vindoura) por méritos próprios — tudo é fruto da Graça.

3.1. Não se podem comprar bênçãos: nem materiais, nem espirituais; nem para esta vida, nem para a eterna

A concessão de indulgências em troca de dinheiro, na Igreja Romana medieval, acabou se transformando em um mércio de bênçãos espirituais — bênçãos essas que jamais puderam (e jamais poderão) ser negociadas, tais como: perdão, remissão de pecados e expiação.

Infelizmente, a comercialização da fé não é um fenómeno que ficou restrito às cercanias medievais. Nos dias atuais, muitas comunidades ditas cristãs aperfeiçoaram essa antiga prática romanista.

Os atuais mercadores da fé não vendem a salvação, mas supostas relíquias que, segundo eles, teriam poderes sobrenaturais — como pedaços da arca de Noé, da arca da aliança, da capa de Elias e até da cruz de nosso Salvador. Os atuais mercadores da fé, desconsiderando a supremacia da obra de Cristo, têm vendido, até, visitas a idosos e enfermos.

Na Era das Trevas, a Igreja Romana comercializava bênçãos espirituais e eternas; na pós-modernidade, comunidades protestantes têm comercializado bênçãos materiais e terrenas; a ambos os grupos, a teologia reformada grita: sola gratia!

Sem a graça divinal, não haveria preservação da vida, provisão de ordem alguma, consciência, livre volição, cura, perdão ou qualquer
outro elemento capaz de conferir beleza ou sentido à existência.

O Eterno concede Sua maravilhosa Graça ao homem, democrática,
livre e ininterruptamente, sem que haja nele (no homem) a possibilidade de oferecer-Lhe o que quer que seja em retribuição (Ef 2.8); pois, como bem observou Paulo: todas as coisas são Dele, e por Ele, e para Ele (Rm 11.36).
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CONCLUSÃO
A doutrina das indulgências e a doutrina do purgatório relativizaram a doutrina da salvação unicamente pela Graça, retomada por Lutero e desdobrada, com fervor, pelos teólogos reformados.

Que esse entendimento seja, para a Igreja de Cristo, o grande legado da Reforma Protestante: alcançamos as bênçãos divinas (materiais e/ou espirituais; para esta vida e/ou para a vindoura) pela Graça, somente.

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO
1. Considerando o que foi exposto nesta lição, responda: o princípio da sola gratia, extraído da Escritura, traz-nos quais entendimentos fundamentais?
R.: (1) Todos, invariavelmente, estamos sujeitos ao pecado e temos inclinações pecaminosas;

(2) todos, indistintamente, somos incapazes de alcançar as bênçãos divinas por méritos próprios — tudo é Graça.
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