O evangelho de Mateus

Mateus demonstra que Jesus de Nazaré é o Messias, esperado por tanto tempo, o rei de Israel, que cumpre as promessas do Antigo Testamento e dirige a expectativa de seus contemporâneos para si. O Evangelho de Mateus mostra como os indivíduos judeus e não judeus se encaixam, juntos, no reino de Deus que está se estabelecendo. O livro incentiva o leitor a viver com total comprometimento a Jesus Cristo como rei.

CONTEXTO
Mateus escreveu o seu Evangelho quando a comunidade cristã primitiva estava em uma encruzilhada. Ela continuaria sendo uma seita do judaísmo, ou se separaria e se tornaria uma fé separada? O Evangelho de Mateus se origina de uma comunidade cristã próxima à Jerusalém, rodeada de judeus que não haviam deixado sua fé judaica. Esta comunidade, diferentemente dos cristãos das igrejas de Paulo, tinha que reagir diariamente às condições estipuladas pela lei judaica.
Os cristãos que liam o Evangelho de Mateus eram incentivados a viver como cristãos judeus entre judeus que estavam completamente comprometidos com a Torá. A carta de Tiago evoca, similarmente, um cristianismo que está ainda firmemente ligado à sinagoga (Tg 2.1-13). Ela usa categorias tão típicas do judaísmo, que podemos sentir uma dúvida, se está tratando de cristianismo ou de judaísmo (Tg 1.26-27; 2.14-26) ao apresentar a sua própria visão do cristianismo, em termos de sabedoria e obediência (Tg 3.13-18; 4.1-12). Aqui está um cristianismo judaico que continua tão firme em seu compromisso com a comunidade judaica como com o seu glorioso Senhor (cp. At 15.1-41).

O Evangelho de Mateus narra como a vida de Jesus afetou os cristãos judeus que tinham dificuldades com as questões rituais, legais, sociais e políticas. Para aqueles primeiros cristãos, Mateus respondeu à pergunta insistente: “Como devemos seguir a Jesus em nossos dias, rodeados, como estamos, pelo judaísmo, enquanto procuramos declarar as boas-novas do reino a todas as pessoas?”

RESUMO
A história de Mateus acompanha Jesus, desde antes do seu nascimento, até depois da sua morte e ressurreição. Jesus enfrenta uma série de perigos potenciais quando criança (Mt 2). Já adulto, Ele inicia uma carreira muito curta, proclamando a justiça de Deus (Mt 5–7) e realizando milagres espantosos (Mt 8.1–9.34); Ele expande o seu alcance, enviando doze apóstolos (Mt 9.35–11.1). A maior parte da experiência de Jesus, no entanto, é a completa rejeição pelas mãos de judeus da Galileia e da Judeia (Mt 11–17). Ele confronta os líderes judeus no Templo, durante a sua última semana (Mt 21–22), anuncia uma última série de lamentações contra as autoridades que desencaminham as pessoas (Mt 23), e prediz que Deus julgará e destruirá Jerusalém (Mt 24–25). Jesus é preso, julgado e executado pelo método da crucificação (Mt 26–27), por se opor aos líderes judeus e desafiar o estado de coisas em sua época. A seguir, Ele é justificado pela sua ressurreição, e dá a grande comissão aos seus discípulos, de fazer discípulos em todas as nações (Mt 28).

Mateus forma o seu Evangelho de acordo com dois princípios estruturais. Em primeiro lugar, depois de uma introdução (Mt 1–4), Mateus alterna material de ensinamento com material de narrativa. Assim, temos sermão e ensinamento em Mt 5–7; 10.1-42; 13; 18; 23–25; e temos narrativa em Mt 8–9; 11.1-30; 12; 14–17; 19–22; 26–28. Em segundo lugar, Mateus registra o confronto de Jesus a Israel, com a mensagem de Deus a respeito da chegada do seu reino, nos últimos dias (Mt 4.12–11.1; veja Mt 4.17), seguido pelas respostas que essa mensagem suscitou em diferentes pessoas (Mt 11.2–20.34). Mateus fala, então, da morte e ressurreição de Jesus Cristo (Mt 21–28) para a salvação da humanidade.

AUTORIA
Mateus escreveu, portanto, os oráculos no idioma hebraico [ou “em estilo hebraico”] e os interpretou da maneira como pôde (Papias de Hierápolis, em Eusébio, História Eclesiástica 3.39.15-16).
Mateus era um coletor de impostos, com quem Jesus fez amizade e a quem chamou para uma vida de justiça e obediência (Mt 9.9). Mateus convidou alguns amigos para um jantar com Jesus (Mt 9.10-13), e é citado entre os doze apóstolos (Mt 10.2-4; veja também Mc 3.16-19; Lc 6.14-16; At 1.13). A tradição da igreja primitiva diz que, depois de ter escrito o primeiro Evangelho, Mateus deixou a Palestina, nos anos 60 d.C., para evangelizar a Índia (Eusébio, História Eclesiástica 3.24.6).

Uma importante declaração foi feita, no início dos anos 100 d.C., por Papias, bispo de Hierápolis (veja acima). Tradicionalmente, entende-se que a declaração de Papias quer dizer que o apóstolo Mateus escreveu um Evangelho em hebraico ou aramaico, e que esse Evangelho foi, posteriormente, traduzido para o grego, talvez por alguém que também conhecesse o Evangelho de Marcos. Estudos recentes sugerem que Papias estava se referindo ao estilo judaico de Mateus, e não ao seu idioma (hebraico ou aramaico), porque o Evangelho de Mateus não parece ser uma “tradução grega” (isto é, o tipo de grego que é frequentemente encontrado em materiais traduzidos a partir de outros idiomas).

Nos anos 1800, os estudiosos se convenceram de que Mateus havia usado o Evangelho de Marcos como uma fonte. Esses estudiosos argumentaram que, uma vez que um apóstolo não teria usado outro Evangelho (e, principalmente, um que tivesse sido escrito por um homem que não era apóstolo!), Mateus não teria sido o autor do Evangelho que leva o seu nome. A tradição antiga conecta o Evangelho de Marcos ao apóstolo Pedro, um fato que faz com que seja mais compreensível a possibilidade de que Mateus tenha se baseado em Marcos. Não há conflito em um apóstolo (Mateus) usar as narrativas de outro apóstolo (Pedro) como fonte conveniente e base para formar a sua própria narrativa.

OCASIÃO DA ESCRITA
Diferentemente das cartas de Paulo ou do Apocalipse de João, o ambiente dos Evangelhos deve ser deduzido com base em comentários e ênfases nos próprios livros (veja Mt 24.15; 27.46; 28.15), uma vez que não existe referência direta disponível. Mateus parece ter escrito em uma época em que cristãos e judeus estavam em um intenso debate a respeito de questões como a obediência à lei (Mt 5.17-48; 15.1-20), quem é o Messias (Mt 1–2), quem é o verdadeiro povo de Deus (Israel ou a igreja; Mt 21.33-46), quem são os líderes legítimos do povo de Deus (Mt 4.18-22; 10.2-4; 21.43; 23.1-36; 28.16-20), e que relação têm os gentios com a igreja e com Israel (Mt 2.1-12; 3.7-10; 4.12-16; 8.5-13; 15.21-28; 28.16-20).

Existe um sério debate a respeito de o Evangelho de Mateus ter se originado de uma comunidade que ainda estava no judaísmo, ou se a comunidade já estava fora do judaísmo. Em outras palavras, a comunidade cristã de Mateus estava separada do judaísmo, ou ainda estava sob as asas do judaísmo? Ou será que o Evangelho de Mateus foi escrito para um público geral, e não para uma comunidade específica? O cristianismo primitivo era diversificado; alguns líderes cristãos, como Tiago, mantinham um longo relacionamento com as comunidades judaicas. Ao discutir essa questão, os estudiosos examinam as seguintes passagens: Mt 2.1-12; 4.12-16; 8.5-13; 10.5-6; 15.21-28; 17.24-27; 19.28; 21.43; 22.7; 23.1-39.
DATA E LOCAL
Provavelmente o Evangelho de Mateus foi escrito em alguma ocasião entre 65 e 80 d.C. Aqueles que argumentam que Mateus usou o Evangelho de Marcos como fonte normalmente datam Mateus depois de 70 d.C.; os que afirmam que ele é independente têm a tendência de atribuir-lhe uma data anterior. Alguns sugeriram que o Evangelho de Mateus foi escrito nos anos 50 d.C. Muitos pensam, hoje, que Mateus foi escrito em Antioquia, na Síria, o que é mais provável que qualquer outro local proposto.

SIGNIFICADO E MENSAGEM
Mateus defende o fato de que Jesus cumpre a antiga fé de Israel e a esperança do Antigo Testamento: nele vieram tanto o Messias quanto o dia do Senhor.

Poucos seguem Jesus.
Obedecendo à instrução de Jesus, esses discípulos evangelizariam todo o mundo e construiriam uma comunidade (a igreja) que incluiria judeus e gentios. De modo geral, no entanto, Israel se recusa a seguir o seu Messias, e Jesus pronuncia advertências terríveis de que eles receberão o juízo de Deus (Mt 23–25) a menos que se arrependam.

O Evangelho de Mateus é singular em sua apresentação de Jesus como o Messias e Professor, na sua ênfase no reino do céu, no seu forte chamado ao discipulado, no seu constante padrão de cumprimento do Antigo Testamento, na sua crítica incisiva aos líderes religiosos judeus, e na sua perspectiva universal que inclui os gentios no reino.

O Messias (Cristo).
Mateus enfatiza Jesus como o Messias (Cristo) (Mt 1.1,16-18; 11.2-3; 16.16,20; 23.10). Ele se concentra em Jesus como o cumprimento das expectativas do Antigo Testamento, embora não da forma como os seus contemporâneos judeus esperavam. Para Mateus, Jesus é claramente o Filho de Deus nascido de Maria (ainda virgem), para trazer a salvação para o seu povo. (Mt 1.21). Em resumo, Jesus é o “Emanuel”, o “Deus conosco” (Mt 1.23; 28.20).

O Reino do Céu.
A expressão “Reino do Céu”, usada trinta vezes por Mateus, é uma maneira indireta, para os judeus, de dizer “Reino de Deus”.
Mateus usa essa expressão para evocar
(1) o governo invisível, mas presente, de Deus na terra, por meio da obra salvadora de Jesus, o Messias;
(2) o cumprimento das promessas do Antigo Testamento (Mt 4.17; 11.11-15);
(3) a atividade salvadora de Deus, frequentemente por meios silenciosos e humildes (Mt 11.25; 13.24-30,36-43);
(4) o poder e a força da atividade de Deus (Mt 11.2-6,12-13; 12.28);
(5) a vinda do reino em uma “geração” (Mt 10.23; 16.28; 24.34);
(6) o juízo final e culminante de Deus (Mt 25.31-46); e
(7) a comunhão final e perfeita de todo o povo de Deus com o Pai (Mt 8.11-12; 13.43; 22.1-14; 26.29). O reino do céu mostra o reinado perfeito de Deus, por meio de Jesus Cristo, o Messias, entre o seu povo, começando com a igreja e consumado no reino eterno de glória e comunhão.

Discipulado.
O Evangelho de Mateus enfatiza o chamado de Jesus para que homens e mulheres sejam batizados, que o sigam como discípulos, que obedeçam aos seus ensinamentos (Mt 28.20), e que tenham comunhão com Ele. Jesus resume as exigências para o discipulado no seu Sermão da Montanha (Mt 5–7), e esse tema reaparece por todo o Evangelho de Mateus (por exemplo, Mt 10; 16.24-26). Mateus mostra os discípulos vencendo as suas falhas com a ajuda de Cristo (veja Mt 14.28-33; 16.5-12).
Cumprimento do Antigo Testamento.
Mais que qualquer outro Evangelho, o de Mateus enfatiza a profunda correspondência entre as expectativas e as promessas do Antigo Testamento e o seu cumprimento, em Jesus. No estilo de um comentário judaico, Mateus conecta textos do Antigo Testamento a eventos na vida de Jesus que cumprem esses textos, e frequentemente apresenta analogias entre o Antigo e o Novo Testamento. O método de Mateus se fundamenta na crença de que aquilo que Deus fez no passado, em Israel, Ele está fazendo novamente, finalmente e plenamente em Jesus, o Messias.
 
Perspectiva universal.
Em um livro que tem tão forte orientação judaica, é surpreendente encontrar tal ênfase na inclusão dos gentios na obra de salvação do Messias. Mais que qualquer outro Evangelho, o de Mateus enfatiza que as boas-novas são para todos, incluindo os gentios. Essa posição coloca Mateus em divergência com a comunidade judaica de seu tempo, em dois aspectos fundamentais: quem é o povo de Deus? Que futuro existe para a nação de Israel? As narrativas do nascimento mostram que Deus salva os gentios, e, por todo o livro, os gentios são retratados de maneira positiva. Uma vez que Deus é soberano, o seu Messias é Rei sobre toda a criação. Embora Deus tenha trabalhado especialmente na nação de Israel e por intermédio dela (veja Mt 10.5-6; 15.24), a inauguração do reino do céu transmite a bondade e o favor de Deus também às demais nações (veja Mt 28.18-20).

Fonte: BÍBLIA THE WAY – O CAMINHO / Reverberação: Subsídios EBD
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